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21/02/2007

ÁFRIKA A PULSAR ( II )

As ovelhas e bovinos domesticados das origens do Crescente Fértil levaram cerca de cinco mil anos até se distribuírem desde o mar Mediterrâneo e Norte de Áfrika até à extremidade sul de Áfrika. Os próprios animais endémicos do continente apresentaram dificuldades de domesticação.Irónicamente, a longa presença humana em Áfrika é provavelmente a razão pela qual as espécies de animais de grande porte sobrevivem ainda hoje. Os animais africanos evoluíram em conjunto com os humanos durante milhões de anos. Isso deu-lhes tempo para aprender a sentir um receio saudável pelo ser humano. Por oposição, a América do Norte e do Sul e a Oceânia foram ocupadas pelo ser humano apenas nas últimas dezenas de milhares de anos. Para infelicidade dos animais de grande porte desses continentes, os primeiros humanos que encontraram representavam já culturas modernas, com cérebros desenvolvidos e tecnologias evoluídas de caça. Populações de espécies de grande porte terão sido exterminados antes de terem tempo para aprender a recear os caçadores.Infelizmente, a longa presença humana em Áfrika encorajou também a eclosão de doenças. O continente tem a reputação de ter gerado algumas das mais terríveis: malária, febre-amarela, a SIDA. Estas e muitas outras doenças humanas surgiram quando micróbios causadores de doenças nos animais evoluíram e atacaram também o ser humano. Para um micróbio já adaptado a uma espécie, adaptar-se a outra pode ser difícil e requer muito tempo evolucionário. Em Áfrika, essa disponibilidade de tempo foi maior do que em qualquer outra parte do planeta. Esta é metade da resposta sobre a eclosão das doenças em Áfrika. A outra metade deve-se aos nossos parentes primatas: a espécie animal mais próxima dos seres humanos ( aquela para a qual os micróbios necessitaram de uma menor adaptação para mudar de espécie) são os símios e os grandes primatas afrikanos.Áfrika continua a ser moldada de maneiras diferentes pela sua longa história e pela sua geografia. Dos dez países mais ricos da Áfrika continental, nove encontram-se parcial ou inteiramente dentro das zonas temperadas: o Egipto, a Líbia, a Tunísia, a Argélia, e Marrocos a norte; a Suazilândia, a Áfrika do Sul, o Botswana e a Namíbia a sul. O Gabão é o único pais tropical de Áfrika que consta na lista. Além disso, perto de um terço dos paises do continente afrikano ( 15 em 47) são rodeados de terra, e o único rio afrikano navegável a partir do oceano até grandes distâncias no interior é o Nilo.
Como as vias marítimas são a maneira mais barata de trAnsportar produtos pesados, a geografia tolhe, mais uma vez inapelavelmente, o progresso de Áfrika.Todos estes factores podem levar à questão: estará o continente, ou , pelo menos, a sua grande parte central tropical, eternamente condenado à guerra, à pobreza e doenças devastadoras? De forma alguma. Em Áfrika fica-se fascinado pela forma harmoniosa como grupos étnicos coexistem em muitos países. As tensões crescem em Áfrika, como em todo o lado, quando as pessoas não vêem outra saída da pobreza a não ser lutar contra os vizinhos por recursos em desaparecimento.No entanto, muitas zonas de Áfrika possuem grande abundância de recursos: os rios da Áfrika Central são activos geradores de energia hidroeléctrica; os grandes animais são uma fonte importante de receitas do ecoturismo na Áfrika Oriental e Austral; e as florestas nas regiões mais húmidas, se geridas e aproveitadas de forma sustentável, tornar-se-ão fontes de receitas renovaveis e lucrativas.Quanto aos problemas de saúde de Áfrika, podem ser muito mitigados com o planeamento e o financiamento correctos.. No último meio século, vários paises anteriormente pobres da Ásia reconheceram que as doenças tropicais eram um sorvedouro na sua economia. Ao investir na saúde pública, refrearam com êxito essas doenças, e a saúde crescente dos seus povos originou economias mais saudáveis.Qual é a melhor perspectiva para o futuro de Áfrika? Se o continente conseguir ultrapassar os seus problemas de saúde e a corrupção que mina muitos dos seus governos e instituições, poderá tirar partido do mundo globalizado e tecnológico da mesma maneira que a China e a India o estão a fazer. E a tecnologia pode proporcionar a Áfrika as ligações que a geografia, em particular os seus rios, lhe negaram durante muito tempo.Quase metade de todos os paises independentes afrikanos têm o inglês como língua oficial, uma vantagem relevante para as relações comerciais. No futuro, uma força de trabalho, com niveis razoáveis de educação e com capacidae de se exprimir em inglês, pode seguramente atrair empresas e oportunidades de trabalho para muitos países do continente.Para Áfrika se dirigir para um futuro radioso, o investimento estrangeiro continuará a ser necessário, pelo menos durante algum tempo. O custo de uma ajuda perpétua ou de uma intervenção militar em Áfrika é milhares de vezes mais elevado do que a verba indispensável para solucionar problemas de saúde e apoiar o desenvolvimento local. Todos nós seremos mais saudáveis e estaremos mais seguros, se as nações afrikanas ocuparem crescentemente os seu lugares como membros pacíficos e prósperos da comunidade mundial.

3 comentários:

margarida disse...

O que me inquieta é perceber que a forma como um povo se "desenvolve" não depende tanto de ajudas exteriores como parece... Nos anos de 800 a 1000 (falando sem precisão) , a Europa vivia uma época semelhante, de pré-determinação de fronteiras, de hierarquia de poderes em cada lugar, de confusão entre a força e o direito. Felizmente (para quem então cá vivia) não existiam nessa altura bombas nem armas tão letais como agora. Mas eram as mesmas convulsões e dificuldades de nascimento de uma "organização" que, aliás, jamais estará terminada.
Creio que o verdadeiro desenvolvimento só se faz a partir da mudança de mentalidades das pessoas. E parece-me que a coisa de que mais África precisa não são ajudas económicas de outro tipo que escolas, escolas, escolas, com inertet e laboratórios, e centros de formação para tudo quanto é vocação. se possível com os professores todos ou africanos ou africanizados, de modo a fazer nascer uma geração capaz de obter tudo o que agora nos parece simples e não é obtido.
Estarei enganada?

Gwendolyn Thompson disse...

Olá, Kim.
É infinitamente triste toda essa realidade que descreves tão bem, com a sensibilidade e talento que lhe são peculiares, mas se cada um de nós olharmos para o nosso interior e começarmos a nossa real transformação, todo o universo é afetado, pela nossa energia. As ações mais diretas, daqueles que detêm as condições mais imediatas de ajuda, poderão ou não vir em socorro, mas daqui de onde estamos podemos sim, denunciar, comentar, gritar, e isto é positivo e necessário, mas a mudança mesmo só acontecerá quando as pessoas se sentirem tocadas por razões mais profundas, vindas da própria essência, da própria alma, e isto requer muito mais do que inspiração baseada no intelecto, requer o sentimento de comprometimento e uma nova consciência de Unidade, de que todos somos um, e que qualquer um de nós, onde quer que estejamos é afetado por tudo o que acontece em qualquer parte do Universo, e a natureza clama e grita por isso.

Beijos

Gwen

Koluki disse...

Parabens por esta digressao pela geografia e a historia da nossa Mae Afrika.
E' interessante que comecei esta manha a escrever um artigo para um site Africano e estava/estou precisamente a encaminha-lo para uma visao mais optimista do futuro do continente (como o Kimang faz aqui) do que aquela com que nos deparamos mais frequentemente nos media.

Um abraco!