Hoje deu-me assim uma tristeza, não aquela tristeza do "coitadinho" do "sem esperança" mas sim aquela tristeza dos vitoriosos e optimistas; aquela tristeza que nos lembra a realidade da vida, aquela que simplesmente é ela propria principio de alegria.
A lembrança de Américo Alberto de Barros de Assis Boavida que escreveu no seu livro "ANGOLA CINCO SÉCULOS DE EXPLORAÇÃO PORTUGUESA" no exílio em Marrocos em 1966 o seguinte:" A defesa dos verdadeiros interesses da maioria esmagadora do país impôe que se denunciem as cláusulas e o espírito dos acordos firmados com os monopólios e os governos que exploram o povo angolano e as riquezas do seu território.Com interlocutores directos junto desses monopólios e desses governos, sobre esses representantes recai a responsabilidade da defesa de liberdade e do progresso das populações oprimidas e exploradas em Angola, e do direito à participação nos lucros e benefícios das riquezas do seu país".
Pois é Imão Américo Boavida foste um visionário ( sempre foste um vanguardista) pois o teu discurso continua completamente actual , hoje, em 2007.
Américo Alberto de Barros de Assis Boavida nasceu em Luanda a 20 de Novembro de 1923. Fez os estudos primários e secundários na sua terra natal e conclui o curso de Medicina na Universidade do Porto, em 1952. realizou ainda estudos complementares de Medicina Tropical e Saúde Publica em Lisboa e obteve a especialização em ginecologia e obstetricia Universidade de Barcelona, mais tarde completada com um estágio na Checoslováquia. Regressou a Angola em 1956 e exerceu a medicina em consultórios privados. Em 1960, no auge da intensificação da repressão colonial portuguesa, refugiou-se na Guiné-Conakry, primeiro, e depois na Répública do Congo-Leopoldville, ingressando nas fileiras nacionalistas do MPLA. Foi o primeiro presidente do Corpo Voluntário Angolano de Assistência aos Refugiados.
Em 1963, numa conjuntura internacional particularmente difícil para o MPLA, teve de se exilar em Marrocos.A partir de 1966 Américo Boavida, não obstante a sua saúde precária ( tuberculose contraída quando era estudante), integrou-se plenamente nas forças do MPLA que levavam a cabo a luta armada em território angolano.A sua actividade como militante foi notável, intervindo nas reuniões com acerto, limando as arestas, mas colocando-se sempre no grupo de vanguarda do combate contra o imperialismo, colonialismo, tribalismo ou racismo.Faleceu a 25 de Setembro de 1968, durante um ataque da aviação colonial portuguesa a uma das bases do MPLA junto ao rio Lwet.
Até sempre meu Irmão.
3 comentários:
Mário de Andrade
14 Rue de Monastir Rabat, le 2 janvier 65
Rabat
Meu caro Hugo,
Embora tardiamente ,Sarah e eu próprio formulamos os melhores votos para 1965, à família Menezes … “ sita em Accra”.
Enviamos um telegrama (assinado pelo secretariado da CONCP) a saber exactamente quando pensavas fazer sair o primeiro número do jornal.
Evidentemente, preparei algumas notas sobre a nova literatura e a revolução nas colónias portuguesas. Alem disso, penso que seria extremamente importante que o jornal fizesse eco regular das publicações da CONCP. Informo - te, a este respeito, que , em principio, terá lugar (passe o galicismo em Rabat, no fim desta semana a primeira reunião do comité preparatório da 2ª conferência das organizações - membros. Claro que mandarei o comunicado final.
Como vão as démarches para o lançamento do jornal Faulha? Queres informar o DAMZ que “ Etincelle” chega-nos aqui via… marítima?
Gostaria de obter a referência do livro sobre as relações económicas com Portugal, de que me falaste. Poderei continuar a expedir outros livros de que necessites para os teus estudos.
Diz algo, brevemente. Abraços do
Mário (Mario Pinto de Andrade)
CORPO VOLUNTÁRIO ANGOLANO DE ASSISTÊNCIA AOS REFUGIADOS
(C.V.A.A.R.)
B.P.856, LÉOPOLDVILLE
5 de Outubro de 1962
Dr. Hugo de Menezes
Bureau of African Affairs
P. O. BOX M24
ACCRA
GHANA
Caro compatriota,
Estamos a enviar-lhe cópia da resposta à carta em que nos pediam um endeeço em Ghana para onde mandar medicamentos para os refugiados angolanos. Esperamos que não seja muito difícil remeter depois o estoque para LÉO.
Pelo despacho nº 5781 de 2 de Outubro do primeiro Burgomestre de Léopoldville, o C.V.A.A.R tem já autorização oficial a partir de 10 de Setembro de 1962. Junto enviamos-lhe a credencial para actuar aí na medida do possível.
Continua a aumentar o número de refugiados e há uma falta enorme de medicamentos tanto nos dez postos actuais (LUALI, MOANDA- BANANA, BOMA, MATADI, SONGOLOLO, MOERBEKE, LUKALA, KINDOPOLO, KIMPANGU e MALELE) como no dispensário central. A segunda turma do curso de enfermagem começa no dia 8 deste com 42 alunos insoritos. Há quase mil crianças e adultos a frequentar já e inscritos nas campanhas de escolarização e alfabetização lançadas pelo C.V.A.A.R. Precisamos de dinheiro para transportar os medicamentos, etc., à fronteira, manter os enfermeiros e alunos, livros, etc.
Para qualquer coisa que precisar daqui, eis -nos ao seu dispor .
Cordialmente,
Deolinda Almeida
PARIS, 12 DE NOVEMBRO DE 1960
Meu caro Hugo:
Ciente de tudo quanto me diz na sua carta de 5 do corrente quanto as demarches do meu processo, e agradeço-lhe de todo o coração toda a sua insistência junto dos ministérios.
Serve esta para lhe informar que recebi a visita do Snr. Adrean no dia 10 por volta do meio dia . Fez -me entrega da quantia de 66.000frs(Sessenta e seis mil). Teve a amabilidade de me dizer que vinha fazer um estágio num dos hospitais daqui e me procuraria dentro de alguns dias pois seguia agora para fora de Paris.
Hoje às 10 horas recebi igualmente a visita do Snr. Jonhson rente , e 60 dollars USA , e de 3.200 Frs. Franceses; e outra P/ o .
Trata-se igualmente igualmente de uma pessoa amável com quem tive o gosto de trocar algumas impressões.
Até este momento que lhe escrevo ( 11horas ) seu irmão ainda não chegou a Paris.
No dia 8 e 9 o nosso amigo M….,foi a Gare de Austerlitz esperar o comboio daquelas paragens a despeito de não ter recebido qualquer informação de Lisboa.
Esta tudo a postos para o recebermos e ajudar no que for preciso.
Despacharei por barco como me pede a mala que ele for portador.
Creio ser tudo por agora. Ficamos todos O.K. e com a crescente esperança de o abraçarmos em breve.
Do colega e amigo e grato
Américo Boavida
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