Em definitivo não é a regularidade que mata a vida mas a nossa incapacidade de a ampliarmos para uma arte de viver que espiritualiza o que é da ordem biológica e alcandora o mais pequeno dos momentos às alturas de uma cerimónia. É talvez aqui que se distinguem as duas partes do mundo ocidental, mesmo quando tendem a aproximar-se. Os Americanos, como dignos utilitaristas, acreditam na felicidade, inscreveram-na na sua Constituição, e estão dispostos a ensiná-la, a prescrevê-la a todos. Se bem que os Europeus, mais cépticos, a considerem como sendo os prazeres e sobretudo a tomem pelo saber viver, a qual, moldada por uma longa tradição, forma uma espécie de civilidade colectiva que integra alegrias e tristezas.
Vede a oposição entre o fast food, princípio da alimentação apressada, solitária e barata, e a gastronomia, princípio da desgustação convivencial e devoradora de tempo. Duas formas de apreender o tempo; ou matá-lo, resumindo o que se repete, ou fazermos dele um aliado, elevando-o ao plano de uma liturgia. Uma releva de uma sociedade de serviços alicerçada sobre a comodidade e o imediatismo, a outra de uma sociedade dos usos que reconhece no seu património e nos costumes tesouros de inteligência e de refinamento que seria crimminoso esquecer.
A verdade é que as duas soluções nos tentam e que gostaríamos de beneficiar dos entendimentos do passado sem os seus constrangimentos, das vantagens do presente menos o seu empobrecimento. Filhos de uma herança compósita, oscilamos entre a nostalgia do ritual e os fantasmas da grande simplificação.
1 comentário:
Olá Kim.
É verdade sim que ficams oscilando entre estas duas opções, como únicas alternativas de vida, quando não buscamos o real, a essência de nós mesmos, o que somos, e não o que pensamos que somos. Parabéns mais uma vez por estar nos dando esta opção de visão.
Um grande abraço e beijos.
Gwen
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