Qual é para o cientista que esforça-se por descrever os objectos que observa ( nós seres humanos incluídos) o “valor das suas verdades”?
Ficará o cientista isento de qualquer influência subjectiva parasita, e assim terá um conhecimento objectivo do objecto estudado? Entre o objecto estudado e o investigador que estuda, nasce uma ligação como que uma cumplicidade.
De Hume e Kant até aos epistemólogos comtemporâneos, a opinião é quase unânime: essa esperança é vã.
Kant declarava que a geometria euclidiana não era mais que um prolongamento da nossa intuição. Nietzche , cem anos mais tarde escrevia: “ Quando dou a definição de mamífero e declaro, depois de ter examinado um camelo, ‘eis um mamífero’ ,uma verdade foi realmente mostrada, mas ela tem no entanto um valor limitado, quero dizer que ela é inteiramente antropomórfica, que não contém um só ponto que seja ‘ verdadeiro em si’, real e válido universalmente, abstraindo do homem”.
Pois vamos andando no tempo e a história da investigação científica no séc. XX, introduz qualquer coisa que desordena muito mais as ideias herdadas. Vertiginosamente, acontecimento após acontecimento revela-nos mundos que já não prolongam a nossa intuição e que se desfazam dos hábitos de pensar quotidianos; quando se começou a pôr em causa a geometria euclidiana e fisíca newtoniana, aí começou esta história. Aqueles postulados que à força de serem repetidos, tinham acabado por fazer crer que constituiam evidências irrefutáveis.
Quando nasceram as geometrias não euclidianas e depois a fisíca da relatividade e dos quanta, compreendeu-se claramente que a realidade podia escapar às estruturas das nossas representações.
Nestes mundos do infinitamente grande e do infinitamente pequeno o delineamento figurativo da realidade tornou-se interdito.Por isso grande parte dos cientistas, políticos e “opinion makers” seguindo o exemplo do Marketing, repetem-nos até à exaustão seus conceitos, cristalizando na mente das pessoas “verdades”.
Há aqui como que um retorno a Narciso e Eco?!!
1 comentário:
Talvez… só talvez… este momento em que deixamos de achar os tais mundos antigos, os prolongamentos de nós mesmos, seja a altura de podermos lidar com conceitos que, estando mais separados de nós, dialogam connosco.
E talvez a incomunicabilidade de Narciso, falando só de si para si mesmo, não seja um destino que nos espera.
Isso, claro, se resistirmos a contentar-nos, como Eco tinha de se contentar, em ser a repetição dos sons que os outros soltam. Se formos capazes de pensar por nós. Mesmo errando. Mesmo titubeando. Mesmo correndo riscos. Mesmo tendo de desobedecer aos deuses.
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